quinta-feira, 12 de novembro de 2015

História de Israel - O Segundo Templo



O Segundo Templo

O grande e poderoso Império Babilónico conheceu um fim abrupto no século VI A.E.C. (antes da Era Cristã). De má memória na História Judaica, por ter destruído o Primeiro Templo e exilado os judeus da sua terra natal, o Reino da Babilónia foi usurpado por Ciro, o Grande, da Pérsia.


Ciro o Grande, da Pérsia (República Islâmica do Irão desde 1979)


Em 539 A.E.C., Ciro convidou os judeus a retornarem do seu exílio, de volta à sua terra natal, e encorajou-os mesmo a reconstruirem o Templo. Os historiadores geralmente concordam que os motivos de Ciro não eram altruístas; ele desejava a renda que lhe adviria de uma Jerusalém reconstruída  e de um novo Templo. No entanto, os judeus receberam a sua proclamação com alegria e retornaram em massa, sob a liderança de Zorobabel e dos profetas Esdras e Neemias.Zorobabel, descendente de um dos últimos Reis de Judá, foi nomeado Governador dos Judeus em Israel. 

Os Persas proibiram a reinstituição da monarquia; no entanto, os governantes permitiram aos judeus uma autonomia significativa. A descrição do regresso dos judeus e da subsequente reconstrução do Templo é descrita em detalhe nos Livros de Esdras, Neemias, e Ageu. (Livros da Bíblia, para quem não saiba).


Maqueta da cidade e do Segundo Templo, em Jerusalém.


A construção do Templo começou em 535 A.E.C., e continuou por cerca de vinte anos. Após a morte de Ciro, os judeus foram forçados a fazer um hiato na construção, por ordem do seu sucessor, mas o imperador seguinte, Dário, permitiu que a construção continuasse.




O Império Persa foi dos maiores e mais poderosos do Mundo Antigo

O Templo foi dedicado no ano 515 A.E.C., e durou até 70 E.C., ainda que lhe faltassem componentes cruciais que tinham sido saqueados pelos Babilónios. Os Imperadores persas devolveram muitos dos belos vasos de ouro, mas os itens mais significativos, como a Arca da Aliança e as tábuas dos Dez Mandamentos não foram devolvidos. Após a sua dedicação, a adoração no Templo continuou como durante a era Salomónica, com a reinstituição de sacrifícios de animais, e as peregrinações durante as festas.


Modelo da Arca da Aliança


O fervor religioso atingiu o auge durante o período do Segundo Templo. Ezra, temendo que a identidade judaica se perdesse, proibiu o casamento entre judeus e não-judeus. Também estabeleceu a Grande Assembleia, cujos membros instituíram o Shemonah Esre (a mais importante das orações diárias), estabeleceu o feriado de Purim, e canonizou os 24 livros da Bíblia judaica


Shemonah Esre, hoje.


O Messianismo, que começou a despontar após a destruição do Primeiro Templo, ganhou força. Uma obra apócrifa escrita durante este tempo (o Livro de Enoque) fala sobre um homem, um descendente de David, que traria a paz no "Fim dos Dias."

O zelo messiânico judaico nessa época atingiu um crescendo durante as revoltas dos Judeus contra os Romanos no final do Período do Segundo Templo, especificamente na pessoa de Bar Kokhba, que o Rabino Akiva afirmou ser o Messias. Quando Bar Kokhba  foi morto e a rebelião final esmagada, em 135 E.C. (depois da destruição do Templo), esmoreceu o entusiasmo messiânico do povo judeu.

O Império Persa caiu nas mãos de Alexandre, o Grande, em 330 E.C., aproximadamente. Os Gregos tentaram erradicar a religião e a cultura  judaica, e o seu programa para o povo judeu era de que este tomasse os valores e modo de vida gregos. Os Gregos proibiram o estudo da Torá e não permitiram que os Judeus praticassem a Halakhah (Lei Judaica).


Início do século XX - Mulheres orando no Muro das Lamentações, o que restou da destruição do Segundo Templo. A presença dos judeus - o povo nativo de Israel - na sua Terra, tem sido ininterrupta desde o início dos tempos.


Os Gregos entraram no Templo Sagrado e profanaram-no, mas os Judeus, liderados pelos Macabeus, revoltaram-se e recuperaram o controle do seu Templo e sua autonomia. O Império Grego,  desintegrou-se com a conquista Romana. 

Em 37 A.E.C., Herodes, o Grande, o governador Romano, remodelou o Templo para o tornar ainda mais esplêndido. Embora alguns se refiram a este edifício reconstruído como "Templo de Herodes", na tradição judaica considera-se o mesmo templo, porque a adoração continuou inabalável durante a reconstrução.

Os Romanos não concederam qualquer autonomia ao povo judeu, o que levou a uma série de revoltas judaicas, que culminaram na destruição do Templo em 70 E.C..

Embora as revoltas tivessem continuado após a destruição, no ano 135 E.C., após a derrota de Bar Kokhba, Jerusalém foi arrasada, os judeus exilados, e a Terra Santa renomeada Aelia Capitolina.

A violenta acção dos Romanos, no entanto, não extinguiu a presença judaica em Israel. No norte do país, especificamente em Tibérias, mantiveram-se centros de aprendizado judaico e estudo da Torá, até que, ao longo do tempo, os exilados voltaram, as sinagogas foram reconstruídas, e a vida judaica floresceu mais uma vez na Terra Santa.




Israel é a Pátria Eterna do Povo Judeu


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

História de Israel - A Revolta de Bar Kokhba

A Revolta de Bar Kokhba
Simon Bar Kokhba é o nome de um chefe revolucionário judeu que combateu os invasores Romanos. O apelido "Bar Kokhba" significa "filho de uma estrela", e refere-se à passagem bíblica de Números 24, que diz que uma "estrela cadente surgirá de Jacob."
O Rabino Akiva, um contemporâneo de Bar Kokhba, deu-lhe este nome, que tem conotações messiânicas. Com efeito, após a destruição do Templo, a remoção de autonomia judaica e o exílio dos judeus de Jerusalém, a esperança na Rebelião de Bar Kokhba, no seu breve breve sucesso e na sua liderança, levou muitos a acreditarem que a Era Messiânica tinha começado.
Os cristãos, que acreditavam que Jesus  de Nazaré era o Messias, rejeitaram Bar Kokhba. Este facto provocou novos cismas entre judeus e cristãos primitivos, ajudando moldar uma identidade cristã até hoje separada do Judaísmo.


A montanha-fortaleza de Heródio foi uma das bases dos revoltosos

Vale a pena visitar esta página para admirar alguns vestígios arqueológicos deste período da História de Israel.

Após a devastação e destruição do Segundo Templo, pelos Romanos, em 70 E.C., e o esmagamento das revoltas judaicas anteriores, a vida judaica em Israel foi dizimada e a soberania judaica esmagada.

A destruição de Jerusalém pelos Romanos persiste na memória colectiva
O Imperador Adriano (76 - 138 E.C.) visitou Jerusalém, e comprometeu-se a reconstruir a cidade e o Templo. No entanto, a sua motivação era fazer uma nova cidade romana e um templo dedicado aos deuses pagãos. Quando os Romanos começaram a lançar as fundações do templo, as tensões cresceram, e quando os ocupantes Romanos proibiram as práticas religiosas fundamentais para a fé judaica, como a circuncisão (que os Helenistas viam como mutilação), os judeus rebelaram-se, e deu-se a terceira rebelião (ou Guerra Judaico-Romana) desde a destruição do Templo. Durou de 132 a 135 E.C., e foi a última.

Pormenor do monumento Romano que celebra a queda de Jerusalém e o saque do Templo (veja-se a Menorá, levada pelos invasores)

A revolução, inspirada em parte pela dinastia dos Hasmoneus, foi inicialmente bem sucedida. Praticando uma guerra de guerrilha, as forças judaicas recapturaram muitas cidades e vilas, incluindo Jerusalém. Os romanos foram apanhados de surpresa, e as tentativas de reprimir a rebelião falharam. Moedas foram cunhadas com a frase "A Liberdade de Israel."


 Moeda judaica da época de Bar Kokhba
Os sacrifícios rituais de animais foram retomados, embora não no Templo; o Rabino Akiva liderou o Sinédrio (Supremo Tribunal judeu), e Bar Kokhba estabeleceu-se como Nasi (príncipe). No entanto, no ano 135 E.C., os Romanos conseguiram finalmente reprimir a rebelião, e fizeram-no de forma brutal. Cercaram as cidades até que as forças judaicas ficaram enfraquecidas pela falta de alimentos, e, em seguida, começaram o ataque final. Os judeus fugiram para o seu reduto, em Betar, mas foram atacados lá também, tendo o golpe final ocorrido em Tisha B'Av, o dia nacional de luto judaico. Centenas de milhar de judeus foram mortos, e Adriano tentou acabar com qualquer indicação de que uma presença judaica existira na Terra de Israel.
O Imperador Adriano
Académicos, incluindo o Rabino Akiva, foram perseguidos e mortos; textos foram queimados. Adriano ergueu estátuas no Templo, e substituiu o nome de "Judeia" nos mapas pelo nome "Síria-Palaestina", a partir do qual deriva o nome moderno "Palestina", que foi um dos nomes da Terra de Israel durante dois mil anos subsequentes.
O Imperador Romano também reinstituiu o nome "Aelia Capitolina" para designar Jerusalém, transformada em cidade romana. Os judeus foram proibidos de entrar na  sua cidade santa.

Simão  Bar Kokhba

Mais tarde, Constantino I permitiu que os judeus entrassem em Jerusalém uma vez por ano, em Tisha B'Av, a fim de chorarem. A revolta teve impacto significativo sobre o Judaísmo. O centro de aprendizado judaico mudou-se para a Diáspora. No entanto, a presença judaica permaneceu na Terra Santa. Os judeus, na sua maioria, migraram para o norte de Safed e para Tiberíades.
Safed ficou conhecida como um importante centro de estudo da Torá, especialmente do estudo da Cabala. Textos judaicos importantes foram concluídos em Israel, incluindo o Mishná e o Talmud Jerusalém. Na História de Israel moderna, a revolta de Bar Kokhba tornou-se um símbolo da resistência nacional. O grupo de jovens judeus "Betar" tomou o seu nome do último reduto de Bar Kokhba, e o primeiro Primeiro-Ministro de Israel, David Ben-Gurion, adoptou o nome de um dos generais de Bar Kokhba.

Bar Kokhba, os seus guerreiros, e os judeus em geral, foram supliciados pelos Romanos, como aconteceria também aos cristãos, em Roma e em todo o Império.

História de Israel - A Dinastia dos Hasmoneus‏


Os Macabeus (do Hebraico מכבים ou מקבים, makabim ou maqabim, significando "martelos", foram a famosa milícia judaica que expulsou os ocupantes Gregos. O seu membro mais conhecido foi Judas Macabeu, assim apelidado devido à sua força e determinação.

A Dinastia dos Hasmoneus‏
A Dinastia dos Hasmoneus começa com a famosa história de Hanukkah. Na sequência da conquista  da Terra de Israel por Alexandre, o Grande, que anexou a maior parte do Mundo Antigo, a Terra Santa ficou sob o controle dos governantes Gregos Selêucidas. Os Selêucidas proibiram o estudo da Torá e profanaram o Templo Sagrado, na tentativa de erradicar a religião e a cultura judaicas. Os gregos queriam que os judeus se vestissem, comessem e pensassem como eles.

No entanto, o povo judeu revoltou-se, em 166 A.E.C., sob a liderança do heróico Judas Macabeu da família dos Hasmoneus. Apesar de muito inferiores em número, em poderio militar e em organização, os judeus foram bem sucedidos na sua revolta e conseguiram repelir o domínio grego. Entraram no Templo para o purificar, mas só encontraram uma vasilha com azeite suficiente para acender a Menorah (candelabro) por uma noite. Diz a lenda que a menorá esteve acesa durante oito noites. O Festival de Hanukkah, ou Festival das Luzes, celebra esse milagre.
Após esse retorno triunfal a Jerusalém, começou o período do governo Hasmoneu. Seguiram-se mais vitórias dos judeus, que, combinadas com um enfraquecimento da autoridade Selêucida, garantiram a restauração da soberania judaica na Terra de Israel.

Os Hasmoneus governaram a Terra de Israel por quase um século. Acreditavam que  a sua Dinastia era a continuação da Era dos Shoftim (Juízes) e dos Reis, dos primórdios de Israel, e consolidaram o poder judicial, religioso, político e militar. Também expandiram as fronteiras físicas da Terra, restaurando quase todas as fronteiras da Era de Salomão. A vida judaica floresceu sob a liderança dos Hasmoneus.
Este aqueduto da Era da Dinastia dos Hasmoneus‏ esteve em uso até ao domínio Britânico da Terra Santa.

Essa época feliz da História de Israel viria a chegar ao fim, com a invasão do Império Romano e a submissão imposta  pelo imperador romano Herodes, o Grande, em 37 A.E.C..

O legado da poderosa dinastia dos Hasmoneus fez com que Herodes casasse com uma princesa Hasmoneana a fim de reforçar a sua legitimidade como governante.

E estamos quase na época de Hanukkah...
    

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

História de Israel - O Primeiro Exílio

Separados dos seus irmãos que não foram deportados, os judeus da Diáspora produziram neste período reflexões preciosas, narradas em diversas obras, nomeadamente na Bíblia. Foi uma dura prova, no entanto espiritualmente fértil.

O Primeiro Exílio
Apenas algumas gerações após o período de glória e prosperidade sob o rei Salomão, os israelitas conheceram a derrota às mãos dos Assírios, e, em seguida, após 200 anos, dos Babilónios. Dois países vizinhos e hostis, situados a Norte, onde hoje é a Síria e o Iraque, respectivamente.

O Templo (Beit HaMikdash, em Hebraico) foi destruído, os seus santos objectos saqueados, e os judeus exilados. Este foi o início da Diáspora judaica, uma época que viu as comunidades judaicas e estudo da Torá florescerem fora da Terra Santa.
No entanto, não importa o quão bem sucedidos espiritualmente os judeus se tornaram nas suas comunidades em solo estrangeira (principalmente na Babilónia), a sua conexão com a Terra de Israel nunca desapareceu. Um dos mais famosos salmos, o salmo 137, eloquentemente, descreve o povo judeu chorando junto aos rios da Babilónia, jurando que nunca iria esquecer a cidade santa de Jerusalém, tão crucial para a sua identidade como a própria mão direita:

1 Junto aos rios da Babilónia
nós nos sentamos e choramos
com saudade de Sião.
2 Ali, nos salgueiros,
penduramos as nossas harpas;
3 ali os nossos captores pediam-nos canções,
os nossos opressores exigiam
canções alegres, dizendo:
"Cantem para nós uma das canções de Sião!"
4 Como poderíamos cantar
as canções do Senhor
numa terra estrangeira?
5 Que a minha mão direita definhe,
ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti! 
6 Que me grude a língua ao céu da boca,
se eu não me lembrar de ti
e não considerar Jerusalém
a minha maior alegria!


A cena celebrizada pelo Salmo 137

O exílio foi um evento traumático na História judaica. De uma só vez, o povo judeu perdeu a sua independência, o seu Templo, e a sua terra natal.
Depois de o Reino do Norte de ter sido exilado, cerca de 200 anos antes, o exílio do Reino de Judá foi um duro golpe na presença judaica completa em Israel.
Nabucodonosor, Rei de Babilónia, tinha permitido apenas que as pessoas mais pobres permanecessem em Jerusalém. O período do cativeiro babilónico na Terra Santa antes da destruição do Templo teve efeitos profundos na religião e cultura judaica.


Outra cena famosa do cativeiro na Babilónia: o profeta Daniel interpreta o sonho de  Nabucodonosor.
O actual alfabeto hebraico foi adoptado por aqueles que permaneceram em Israel, substituindo o alfabeto israelita tradicional. Foi o último período de intensa profecia divina, principalmente por meio do profeta Ezequiel. E foi nesse momento que a Torá começou a ser compilada pelos principais estudiosos da Grande Assembleia que permaneceram em Jerusalém.
A divisão em"tribos" perdeu-se, com excepção da tribo de Levi, que continuou a ter o seu papel único como servidores do Templo.
Esta foi também a primeira vez, desde o reinado do Rei Saúl, que o povo judeu se viu sem um líder.

Ruínas da Babilónia, descobertas por pesquisadores europeus no início do século XX.
Sábios e estudiosos começaram a emergir como líderes, com destaque para Ezra e Neemias, sábios exilados que viriam a liderar o regresso do povo judeu à sua terra natal, desde a Babilónia.

Neemias impulsionou a reedificação do Templo
Gedalias, o líder judeu nomeado por Nabucodonosor como governador dos restantes judeus indigentes de Jerusalém, começou a revitalizar a cidade e, com ela, as esperanças do povo. No entanto, Gedalias foi assassinado por um judeu que se ressentia da sua proximidade com a regência da Babilónia, e as restantes famílias judias, temendo represálias dos babilónios, fugiram para o Egipto.
Só pelo decreto do Rei Ciro da Pérsia (actual Irão), em 538 A.E.C., é que os judeus foram finalmente autorizados a regressar à sua Terra Santa.

 

O actual Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem lembrado esta antiga ligação entre as duas nações, e têm-se registado iniciativas israelitas de apreço pela Pérsia, nomeadamente a conhecida "ISRAEL AMA O IRÃO". Que foi teve resposta imediata através de "O IRÃO AMA ISRAEL":





 

sábado, 31 de outubro de 2015

História de Israel - A conquista de Judá


A conquista de Judá

Como descrevemos nos capítulos anteriores desta resumida História de Israel, os três primeiros Reis foram Saúl, David e Salomão. Após a morte de Salomão, as dez tribos do norte revoltaram-se e estabeleceram o Reino de Israel, no norte. As restantes tribos permaneceram leais ao filho de Salomão e formaram o Reino de Judá, no sul.


A História dos Reis de Judá vem narrada na Bíblia nos Livros das Crónicas.


Esta é a lista dos Reis de Judá: 
 
Roboão (928-911), Abias (911-908), Asa (908-867), Jeosafá (867-851), Jorão/Joram (851-843), Acazias/Jeoacaz (843-842), Atalia (842-836), Joás/Jeoás (836-799),  Amaziah/Amazias (799-786), Uzias (786-758), Jotão/Jotan (758-742), Acaz (742-726), Ezequias (726-697), Manassés (697-642), Amon (642-640), Josiah/Josias (640-609), Jeoacaz (609-608), Joaquim/Eliaquim (608-597), Joaquim (597), Zedequias (597-587). 



Representação dos Reis de Judá na Catedral de Notre-Dame de Paris


A conquista do Reino de Israel, ou Reino do Norte, deve ter causado forte alarme no Reino de Judá, ou Reino do Sul. Judá escapou à conquista pelos Assírios, mas viria a cair um século mais tarde, às mãos dos Caldeus.

O Rei assírio Sennacherib lograria conquistar território a Judá, em 701 A.E.C., e os judeus quase sofreram o mesmo destino dos israelitas. Em 625 A.E.C., os Babilônios, sob o Rei Nabopolassar, iriam consolidar o seu controle sobre a Mesopotâmia, e o Rei judeu Josias procurou agressivamente alargar o seu território, aproveitando-se do vácuo de poder na região. Judá ver-se-ia em breve enredado nas lutas de poder entre Assírios, Babilônios e Egípcios:

Quando o filho de Josias, Jeoacaz, subiu ao trono, o Rei do Egito, Neco (posto no poder pelos Assírios), atacou com sucesso Judá, que se tornou um Estado vassalo do Egipto. 

Quando os Babilônios derrotaram os Egípcios em 605 A.E.C., Judá tornou-se passou a ser um Estado vassalo da Babilónia. 

Mas quando os Babilónios foram derrotados em 601 A.E.C., o Rei de Judá, Joaquim, desertou aliou-se os egípcios. Então o Rei da Babilónia, o famoso Nabucodonosor, organizou uma expedição para punir Judá, em 597 A.E.C.. 


O poderoso Rei Nabucodonosor

O novo Rei de Judá, Joaquim, entregou a cidade de Jerusalém a Nabucodonosor, que, em seguida, nomeou um novo rei sobre Judá, Zedequias. Em conformidade com a prática da Mesopotâmia, Nabucodonosor deportou cerca de 10.000 judeus para a sua capital, Babilónia; todos os deportados eram profissionais especializados, cidadãos ricos, e artesãos. As pessoas comuns foram autorizadas a permanecer em Judá. Esta expulsão foi o início do Exílio.

Os famosos Jardins Suspensos da Babilónia. Esta cidade possuía uma organização social, legal, política, económica e cultural, que fez dela o berço da Civilização, segundo muitas opiniões.

A história poderia ter terminado ali, com a assimilação dos judeus e a sua dissolução entre as muitas civilizações extintas desta tão agitada região do globo. No entanto, Zedequias revoltou-se contra o domínio dos Babilónios mais uma vez. Nabucodonosor respondeu com outra expedição em 588 A.E.C., e conquistou Jerusalém em 586 A.E.C.. Nabucodonosor capturou Zedequias, e obrigou-o a assistir o assassinato dos seus filhos; em seguida, cegou todos os que viria a deportar para a Babilónia. Mais uma vez, deportou os cidadãos proeminentes, mas em número muito menor do que em 597: calcula-se que foram deportadas entre 832 e 1577 pessoas.

A execução dos filhos de Zedequias, por Nabucodonosor. A ópera Nabucco (Nabucodonosor), de Giuseppe Verdi, é uma das mais emocionantes narrativas deste período histórico.

O Reino Hebraico, que começara com as promessas de glória personificadas em David, parecia agora chegar ao fim. Parecia que nenhuma nação judaica iria jamais existir novamente. E também parecia que a ligação especial que o Senhor prometeu aos Hebreus, a aliança segundo a qual estes teriam um lugar especial na História, tinha sido quebrada e esquecido pelo seu Deus. Este período de confusão e desespero, com uma comunidade unida mas desalojada, nas ruas de Babilónia, tornou-se um dos períodos históricos mais importantes da história judaica: o Exílio.


Um dos episódios mais intrigantes deste período foi o sonho de Nabucodonosor, interpretado pelo Profeta Daniel. O ídolo que o Rei vira em sonhos seria o símbolo dos Impérios que invadiriam a Terra de Israel, antes do tempo final, o da vinda do Messias e do estabelecimento do Reino de Deus na Terra, que será o tempo actual.

Separados dos seus irmãos que não foram deportados, os judeus da Diáspora produziram neste período reflexões preciosas, narradas em diversas obras, nomeadamente na Bíblia. Foi uma dura prova, no entanto espiritualmente fértil.

 

domingo, 25 de outubro de 2015

História de Israel - Os Samaritanos


  Invasão Assíria da Terra de Israel

Os Samaritanos
Uma outra consequência da Invasão Assíria foi a colonização de Israel pelos Assírios. Esse grupo instalou-se na capital do Reino de Israel, Samaria, e levou com ele os deuses e os cultos religiosos assírios. No Médio Oriente e naquela época, as pessoas eram acima de tudo altamente supersticiosas. Mesmo os Hebreus, monoteístas, não negavam necessariamente a existência ou o poder dos deuses de outros povos - pelo sim, pelo não...

Samaritanos de hoje.

Os povos conquistadores também viviam no temor de que os deuses locais se vingassem deles. Era comum, por isso, adoptarem o Deus ou deuses locais, e integrarem esse culto na sua religião e no seu culto.


 Ruínas do Templo Samaritano no Monte Guerzim

Passado algum tempo, por isso, os Assírios na Samaria adoravam o Deus de Israel.  Sem deixarem de prestar culto aos seus próprios deuses.
E passado um par de séculos, já adoravam o Deus de Israel exclusivamente. Assim se originou o único grande cisma na religião de Javé: o cisma entre os Judeus e os Samaritanos. Os Samaritanos, que eram Assírios e, portanto, não-Hebreus, adoptaram quase todos a Torá Hebraica e as suas práticas e culto; ao contrário dos Judeus, no entanto, eles acreditavam que poderiam sacrificar a Deus fora do Templo em Jerusalém. 
Os Judeus franziram a testa aos Samaritanos, negando que um não-Hebreu tivesse o direito de ser incluído entre o Povo Escolhido.  Ainda mais os irritou que os Samaritanos se atrevessem a sacrificar ao Senhor fora de Jerusalém. Preconceitos das mentalidades de há milénios. Noutras civilizações contemporâneas também os encontraremos.
O cisma Samaritano desempenhou um papel importante na rectórica de Jesus de Nazaré. Ainda há Samaritanos que vivem nas redondezas cidade de Samaria.
Sacerdote Samaritano junto da Torá

As relações dos Samaritanos com os diversos ocupantes da Terra de Israel foi irregular.

Foram aliados dos Selêucidas no combate aos Judeus, narrado nas Escrituras nos Livro dos Macabeus.

Durante o domínio do Império Romano foram cruelmente reprimidos, pois o Império temia que se aliassem aos Judeus na luta pela restauração da Independência. Os Samaritanos preferiram a morte à capitulação.

Sob o Império Bizantino, o Segundo Templo dos Samaritanos foi destruído e não voltou a erguer-se. Em 529 A.E.C., a Revolta dos Samaritanos contra o Império Bizantino saldou-se por um rotundo insucesso, e pelo extermínio ou conversão forçada de milhares de infortunados Samaritanos. Nessa época, os Samaritanos deixaram de ser uma nação para serem uma minoria étnica-religiosa.


 Antigo cemitério Samaritano, em Israel.

As investidas islâmicas na Terra de Israel também não foram boas para os Samaritanos, apesar de alguns se terem convertido ao Islão e prosperado na sociedade islâmica. No século XVI, os Mamelucos não pouparam os lugares de culto Samaritanos nem Judeus.
Já sob o domínio Turco, em 1841, as autoridades muçulmanas acusaram os Samaritanos de serem pagãos, o que poderia ter-lhes acarretado gravíssimas consequências, não fora a intervenção do Grão-Rabino da Palestina, que emitiu um documento no qual atestava que os Samaritanos eram um ramo dos Filhos de Israel.

Família Samaritana - século XIX

As população Samaritana voltou a crescer e a escapar a uma extinção repetidamente anunciada já no século XX, após a restauração da independência de Israel.  No século XIX chegaram a ser menos de 120. Hoje são cerca de 750. Regra geral, não aceitam conversões, e não se casam fora da sua comunidade religiosa, o que acarreta enfermidades genéticas e limita o crescimento demográfico.

 
 Onde se situam as comunidades Samaritanas ainda hoje

O Movimento Sionista e o Estado Judaico, que se caracterizam pela sua laicidade, aceitaram os Samaritanos sem quaisquer reticências, apesar de subsistirem divergências de fé entre Judeus e Samaritanos ainda hoje.
Israel é um país democrático - ó único no Médio Oriente - e todos os seus cidadãos (judeus, samaritanos, druzos, árabes, beduínos, arameus e outros) gozam dos mesmos direitos.

Celebração da Páscoa. Os Samaritanos continuam a usar os seus antigos e tradicionais fornos.

No essencial dos princípios de fé, ambas as comunidades concordam, mas os Samaritanos apenas aceitam a Torá, que interpretam literalmente, e recusam obras exegéticas como o Talmud ou o Midrash.  
Os Samaritanos crêem na Unidade e unicidade de Deus, na qualidade profética de Moisés, na inspiração Divina da Torá, na ressurreição, no carácter sagrado e único do Monte Guerzim, e aguardam, como os Judeus, a vinda do Messias, o Taheb, que será semelhante a Moisés.

Antiga lamparina de azeite 

Os bilhetes de identidade dos Samaritanos de Israel classificam-nos como "judeus samaritanos" ou simplesmente "judeus". O Estado de Israel protegeu legalmente as comunidades e locais sagrados dos Samaritanos. Ao contrário dos Árabes, a generalidade dos Samaritanos cumpre o serviço militar.


Anciãos Samaritanos visitam a Exposição da Cultura Samaritana,  em Jerusalém.

Será desnecessário referir que esta é apenas uma modesta entrada num modesto blogue. Para saber mais sobre a História de Israel, convidamos os nossos leitores a explorarem por sua conta. Há inúmeros sites e livros sobre História e Arqueologia de Israel, e muitos fazem a correspondência com a Bíblia, o que é bastante interessante.
Site da Comunidade Samaritana -  http://www.israelite-samaritans.com/